Cantão e Carminha - O casal sem noção
- O Velório
- O Velório
Carminha: Nossa, Cantão... quem diria que o Seu coiso lá fosse morrer, né? Que tristeza...
Cantão: Verdade. Mas olha lá, Carminha... olha a filha da Valéria... como tá gorda, parece uma bola!
Carminha: Também, não faz nada da vida. Deve comer e dormir o dia inteiro.
Cantão: E a noite inteira também! Falando em comer, bem que eles podiam ter comprado alguma coisa pros convidados. Já são 3 horas de velório, e não serviram nem mesmo um café.
Viúva do Seu coiso lá: Seu Cantão, Carminha! Muito obrigada por comparecerem neste momento de dor.
Cantão: Do que seu marido morreu, Dona?
Viúva do Seu coiso lá: Foi um chá de cogumelo.
Carminha: Chá de cogumelo? Nem sabia que isso matava.
Viúva do Seu coiso lá: Quando você tá junto do cogumelo, mata sim!
Cantão: O quê? Ele era um cogumelo?
Viúva: Ele trabalhava na fábrica de chá de cogumelos. Então, quando foi carregar a trituradora, ele perdeu o equilíbrio e foi junto.
Cantão: Ai, que tristeza, dona... mas diga, ele tá todinho aí no caixão, ou chegaram a beber um pouco dele?
Viúva do Seu coiso lá: Buááááááááááááááááááá!! Beberam meu ma-ma-ma-ma-mariidooo!! Buááááááááá!!
Carminha: Pôxa, Cantão... não fala essas coisas pra viúva do Seu coiso lá, né?
Cantão: E eu tenho culpa, Carminha? E tem mais: sabe por que o Seu coiso lá caiu na trituradora?
Carminha: Não... o que foi?
Cantão: Por causa de CACHAÇA! Era um pudim de pinga!
Viúva do Seu coiso lá: Por favor, Seu Cantão! Respeite o falecido defunto já morto!
Carminha: Desculpa, dona, mas o Cantão tem razão. Passávamos noites sem dormir, porque vocês viviam brigando. Ele chegava muito do doidão em casa, e vocês quebravam o pau!
Filha da Valéria: Por favor... queiram se comportar!
Cantão: Vááááá te catar, sua popótama!
Filha da Valéria: Buáááááááááááá! Me chamou de hipopótama!
Padre: Não! Ele disse "popótama".
Filha da Valéria: Buááááááááá! Me chamou de popótama!
Padre: Bom... silêncio! Creio que podemos começar nossa oração. Irmãos, estamos aqui reunidos para celebrar a passagem do Seu coiso lá, que, tendo cumprido sua missão...
Cantão: Seu Padre, ele não cumpriu a missão, não!
Viúva do Seu coiso lá: Por favor, Cantão!
Cantão: Verdade! Ele nem terminou de carregar a trituradora! Morreu e deixou serviço pros outros!
Padre: Buáááááááááááá!
Cantão: Padre, Padre... vocês têm que aprender que não se torna santo por causa da morte.
Padre: Quando eu digo que ele cumpriu sua missão, Cantão, eu quero dizer que ele foi um bom pai, um bom marido... é isso!
Cantão: Ah, Padre... o senhor realmente não conhecia o Seu coiso lá. Como ele pode ter sido um bom pai, se colocou no mundo aquele vagabundo do filho dele?
Filho do Seu coiso lá: Buáááááááááá! Me chamou de vagabundo, mãe!
Viúva do Seu coiso lá: Que desaforo! Com que propriedade você diz isso, Seu Cantão?
Cantão: Ué... com a propriedade que me é defirida!
Carminha: É propriedade defErida, Cantão! Escreve-se com "E"!
Cantão: Ah, Carminha... você não sabe das coisas, então fica quieta aí.
********* Horas de discussão depois... *********
Carminha: Pôxa, Padre, não precisava amarrar e amordaçar o Cantão! Olha só o coitadinho, ficou até azul!
Padre: Só assim pra ele ficar quieto, não? Mas, continuando: estamos aqui reunidos para... espera! Cadê o defunto? Quem tirou o caixão daqui?
Seu coiso lá (ao longe): Fui eu, seu Padre! Cansei de esperar, e tô indo a pé pro túmulo!
- Darini
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